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A COMPULSÃO EM TEMPOS MODERNOS

Posted in Sociedade Contemporânea por Joaquim Cesário de Mello em julho 28, 2009
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O ser humano sempre sofreu de compulsões e haveremos também de concordar que qualquer coisa,  idéia ou substância pode servir ao ser humano como objeto de sua compulsão. Há na “alma humana” uma inclinação à compulsividade e à adição. Os comportamentos compulsivos ou adictos são hábitos adquiridos na insaciável busca humana pelo alívio de sua ansiedade ou angústia. Tais hábitos ou aprendizagens, que se transformam pelas repetições constantes em ações/respostas automáticas, resultam por se tornarem desadaptativos e o que era antes uma espécie de “estratégia mental” para se livrar da ansiedade acaba gerando, paradoxalmente, mais ansiedade e com isto mais comportamentos compulsivos.

Entre tantos possíveis comportamentos adictos (sexo, trabalho, drogas, internet, jogo, etc) temos os pertinentes aos Transtornos Alimentares. A compulsão alimentar envolve uma ingestão inadequada, excessiva ou reduzida de alimentos, sempre feita de maneira incontrolável e impulsiva. Sabemos que desde a nossa primeira infância (oralidade) o alimento está associado a sensações de relaxamento, prazer, alívio e conforto. Toda vez que o bebê sente-se desconfortável por sentir fome, e por isto chora, seu saciamento é seguido se atenuação, alívio e prazer. Associe a isto o fato ainda de ao ser amamentado o bebê tem tambem o contato físico com o corpo da mãe, seu calor, carinho e aconchego. Alimentar-se assim dá sentimentos de segurança que serão básicos para o surgimento da auto-confiança no ser humano. Um ser humano mais auto-confiante tem uma melhor auto-estima e, dessa maneira, está mais aparelhado para os enfrentamentos da vida. Crescemos, portanto, associando  alimento e prazer.

Afirmamos acima que o ser humano de alguma maneira sempre sofreu e sempre sofrerá de compulsões, ou ao menos estará sempre correndo risco. Acontece que nas últimas décadas temos tido um elevado aumento nos comportamentos compulsivos, talvez devendo-se ao fato ao tipo de sociedade que estamos formando e vivendo. A modernidade em sua fase mais consumista e hedonista (pós-modernidade) tem como cada vez mais uma característica à dimensão compulsiva. Como certa vez disse Giddens, “o fato de hoje podermos nos tornar viciados em qualquer coisa – qualquer aspecto do estilo de vida – indica a real abrangência da dissolução da tradição. O progresso do vício é uma característica substantivamente significante do universo social pós-moderno, mas também um ‘índice negativo’ do real processo de destradicionalização da sociedade”.

Tal destradicionalização da sociedade leva-nos a um modo de viver vazio e desprovido de possibilidades emancipatórias. Ao não reconhecermos um propósito maior para a vida estamos muito mais expostos aos comportamento adictos e compulsivos onde tentamos – inultilmente diga-se de passagem – pseudotranscender nossa angústia existencial.

Estamos falando disso agora, pois é de nosso interesse levar o transeunte aqui presente a ler a matéria publicada na Revista Psique nº 39, que leva o título de “Compulsão e Distúrbios Alimentares” (matéria de capa “Compulsão: um mal moderno”). Leiam, pois, acessando: artigo131301-1.asp?o=r

E ainda para quem deseja ampliar e aprofundar sobre o tema compulsividade e modernidade, sugerimos uma leitura complementar em “A Compulsão e o vício da modernidade” de Leonardo de Araújo e Mota (publicado na Revista Humanidades nº 02/2002): 1518.pdf

Tema aberto para debate, portanto…