HumanasBlog


APRESENTAÇÃO

Posted in Notícias e Eventos por Joaquim Cesário de Mello em outubro 24, 2009
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Ver imagem em tamanho grande O HUMANASBLOG é um blog criado para propiciar debates, discussões, circulação de idéias/experiências, e com isto ser um espaço crítico e reflexivo sobre assuntos vários pertinentes à questão humana, suas vicissitudes e manifestações, mais precisamente no campo da psicologia, da arte, da história, das idéias, do cinema, da poesia, da literatura e de temas ligados ao ambiente sócio-cultural contemporâneo que nos envolve.

Coordenado, produzido e editado por Joaquim Cesário de Mello  o HUMANASBLOG espera contar com a máxima e ativa participação de seus visitantes, seja comentando, debatendo, sugerindo e discutindo, bem como contribuindo com temas, trabalhos, artigos e materiais vários (vide e-mail para envio abaixo) dentro do espírito do blog que é o de instigar, incitar e estimular o esprírito humano no que ele tem de mais humano que é a sua capacidade inquieta de sempre querer transformar o mundo e a si mesmo.
Deste modo não esperemos, portanto, neste blog entretenimentos, diversões e lazeres, todavia questionamentos, reflexões, produção de idéias, sentimentos, insights… afinal nossa proposta é ter um blog humano, demasiadamente humano.

Boas leituras…

e-mail p/contato: humanasblog@ig.com.br

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IMAGENS ETERNAS

Posted in Fotos & Imagens por Joaquim Cesário de Mello em outubro 24, 2009

Os festivais de música popular brasileira da extinta rede de televisão Record nos deixou imagens inesquecíveis. Entre os anos de 1966 e 1968 por lá circularam artistas (muitos iniciando carreira) do naipe de Chico Buarque, Edu Lobo, Nara Leão, Jair Rodrigues, Tom Zé, Gilberto Gil, Caetano Veloso, MPB4, Mutantes e até (recordem) Roberto Carlos em 1967 com a comovente Maria, Carnaval e Cinzas, composição de Luiz Carlos Paraná.

Foram várias as músicas que de lá marcaram não somente a história da música brasileira, mas igualmente embalaram a infância e juventude de toda uma geração. Músicas tais como: Ponteio, Roda Viva, A Banda, Disparada, Domingo no Parque, Alegria Alegria, Dois Mil e Um, Sinal Fechado, entre outras.

Abaixo, pois, algumas da imagens que fazem parte do meu repertório de lembranças com som, cheiro, sabor, saudade e dor de infância:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

DEU NA MÍDIA

Posted in Mídia por Joaquim Cesário de Mello em outubro 21, 2009

 

 

E cérebro tem sexo? Segundo a neuropsicóloga inglesa Anne Moir da Universidade de Oxford sim. Para ela o cérebro humano, independente do sexo biológico, tanto pode ser feminino quanto masculino. Tal diferença neurológica produz diferenças seja de comportamentos quanto na maneira de sentir e de pensar das pessoas. E tal diferença é resultado da evolução da espécie, isto é, como o homem primitivo era caçador desenvolveu habilidades visuais, manuais e de coordenação motora, razão pela qual o cérebro masculino tem mais habilidades de caráter funcional. Já as mulheres primitivas que ficavam cuidando da prole e preparando alimentos desenvolveram melhor a capacidade empática de entender o bebê. E como elas conviviam mais com outras mulheres, por sua vez desenvolveram um cérebro mais social por assim dizer.

Pois é, intrigante não? Vejam, portanto, a reportagem sobre o assunto publicada na revista Época, para isto acessando: 0,,EMI65446-15224,00-QUAL+E+O+SEXO+DO+SEU+CEREBRO.html

O SABER QUE VEM DO ORIENTE

Posted in O Mundo por Joaquim Cesário de Mello em outubro 21, 2009

 

 

 

Para quem não sabe não é a partir dos psicodélicos anos 60/70 do século XX que a filosofia oriental influencia o pensamento ocidental. Vem desde a Antiguidade Clássica. Não sabia? Estranhou? Dúvida? Vide então a esclarecedora matéria publicada na revista Filosofia Ciência & Vida e redigida por Alexey Dodsworth, afinal, por exemplo, os Vedas (livros sagrados da Índia e obra capital da filosofia hindu), mais antigos que a própria Biblia, estão repletos, como escreve Alexey, de mensagens de sabedoria que comumente chamamos de “filosofia de vida”. A matéria sob comento é extensa, mas vale a leitura com calma como quem sorve um saboroso sorvete em um final de tarde calorento de verão.

Na íntegra o texto: capa-o-oriente-infuenciou-o-pensamento-ocidental-schopenhauer-e-152430-1.asp

CONHECENDO VIRGÍNIA FONTES

Posted in Idéias por Joaquim Cesário de Mello em outubro 21, 2009

Vírginia Fontes é professora de história aposentada da Universidade Federal Fuminense (UFF) e pesquisadora. Tem se destacado com seus trabalhos e reflexões sobre o processo de construção hegemônica do neoliberaismo brasileiro. É autora do livro “Reflexões Im-pertinentes: História e Capitalismo Contemporâneo” (Ed. Bom Texto, 2005). Intelectual de elevado nível, não se restringe apenas ao meio acadêmico, mas igualmente participa ativamente de movimentos sociais. Para ela o avanço das lutas populares deve estar focado na luta anticapitalista. Segundo ela as transformações ocorridas no chamado capitalismo tardio exigem a retomada crítica dos clássicos, principalmente os de inspiração marxista, como uma espécie de base a fundamentar econômica, política e culturalmente as lutas de classes hoje existentes no mundo atual. A quem afirma que a luta de classes acabou, Virgínia Fontes rebate afirmando: ” quando a gente não consegue ver a dominação, é só olhar para a exploração”. Igualmente confronta a quem afirma que o trabalho acabou argumentando que ao contrário o trabalho aumentou, porém perdeu direitos, e que trabalhador não é somente aquele que tem carteira assinada.

Pertinente, portanto, a leitura de sua recente entrevista à revista Caros Amigos, cujo título já nos diz muito, isto é, “A luta popular hoje deve ser anticapitalista”. Leiam, pois a referida entrevista acessando o seguinte link: carosamigos.terra.com.br

ADOLESCÊNCIA MEADOS SÉCULO XX

Posted in Memórias Afetivas por Joaquim Cesário de Mello em outubro 15, 2009

Carlos Zéfiro era o nome artístico de Alcides Cunha. Quem viveu sua puberdade e adolescência nos anos 50/60 e início anos 70 com certeza conheceu a obra e os trabalhos de Zéfiro, principalmente os garotos da época.

Carlos Zéfiro se notabilizou por desenhar desenhos eróticos em um tempo em que não tinhamos a abundância de revistas eróticas e pornográficas que hoje se vendem com bananas nas bancas de revistas de cada esquina da vida (no máximo o que tínhamos eram aquelas pequenas revistas pornôs européias que chamavamos de suecas).  Para adolescentes de minha geração Zéfiro era com certeza o “mestre da sacanagem”. Segundo o Wikipédia, Carlos Zéfiro “ilustrou e vendeu cerca de 500 trabalhos desenhados em preto e branco com tamanho de 1/4 de folha ofício e de 24 a 32 páginas que eram vendidos dissimuladamente em bancas de jornais, devido ao seu conteúdo porno-erótico, ficando conhecidos como “catecismos” e chegaram a tiragens de 30.000 exemplares”.

Aqui, portanto, nós que um dia fomos adolescentes, e nós que um dia tínhamos nos desenhos de Zéfiro uma significativa fonte de inspiração às nossas fantasias eróticas, tão necessárias para nossa formação psicossexual, uma homenagem inclusa em

 nossas memórias afetivas,  bem como ainda uma homenagem  àquelas voluptuosas mulheres fictícias que tanto povoou o imaginário dos meninos em crescimento.

Para quem quiser conhecer mais, um pouco mais, da época em que seus pais eram “marmanjões” cheios de hormônios para dar, acessem ao seguinte endereço: biografia3.htm

CARL HONORÉ E A CULTURA DA VELOCIDADE

Posted in Idéias por Joaquim Cesário de Mello em outubro 9, 2009

 

Que vivemos tempos acelerados todos sabemos, visto que somos uma geração ao estilo fast food. E é exatamente sobre tal aceleração com que vivemos a vida que o filósofo, escritor e jornalista escocês Carl Honoré se debruça a refletir o que chamou de “Cultura da Velocidade”.

Carl Honoré publicou alguns poucos anos atrás o livro “Devagar” e nele demostra que a cultura da velocidade teve sua origem na Revolução Industrial, tendo sido impulsionada pela urbanização crescente e aumentou desenfreadamente com os avanços da tecnologia no século XX. Com o mundo em plena atividade, o culto à velocidade nos impeliu ao colapso. e hoje vive-se no limite da exaustão (vez em quando nossos corpos e mentes nos lembram que o ritmo da vida está girando fora de controle). O referido livro descreve a história de nossa pressa e sua relação com o tempo que para o homem contemporâneo é cada vez mais escasso. Indaga o autor, por exemplo: por que estamos sempre com pressa? Qual a cura para a falta de tempo? É possível, ou até mesmo desejável, desacelerar? E em busca de tais respostas propõe uma vida menos acelerada e no desacelerar do passo possamos não somente melhor apreciar o instante, como viver com mais tranquilidade e felicidade de se estar simplesmente vivo.

Viajando pelo mundo Honoré coletou várias histórias de pessoas e gente que conseguiram mudar o ritmo de suas vidas, seja desacelerando o trabalho, a alimentação, o sexo, a educação com os filhos e os cuidados com o próprio corpo e saúde pessoal. Com Carl Honoré surge o movimento  Slow Life.

Será que estamos começando a viver uma revolução silenciosa pelo movimento devagar?  Não sei aqui a resposta, apenas observo, sei e sinto que estamos paganedo um alto preço pela velocidade e que já era tempo de se começar dar um, basta nisto e passarmos a reinvidicar a vivência do tempo sem correrias destrambelhadas. Sem tanta pressa podemos ser mais produtivos até, ter mais energia à vida e sorvê-la lentamente com sabor ao invés de devorá-la com avidez e voracidade de uma oralidade imatura.

Para conhcere um pouco mais das idéias de Carl Honoré, sugerimos a leitura de sua entrevista feita por Angelo Medina cuja matéria levou o sugestivo título “Bem Estar Mental”: entrevista_carl_honore.htm

 

O EROTISMO SUTIL DA IMAGENS

Posted in Fotos & Imagens por Joaquim Cesário de Mello em outubro 7, 2009

 

 

 

O corpo é a principal argamassa para a artista sueca Pipilotti Rist, uma das pioneiras da segunda geração da videoarte. A utilização do corpo e seus segredos é para artista uma mera busca da poesia das imagens. E na exploração (no sentido de busca e não de uso abusivo) do corpo e de suas curvas, frestas, orifícios, umidades, epiderme e defeitos, como diz Fernanda Ezabella da Folha de São Paulo as vulvas vistas de perto deixam de ser vulvas, se transformam em superfícias úmidas e vermelhas, percorridas por uma câmara como se procurasse ouro.

Para Rist, artista que não teme o corpo, ela não teme também as cores que considera significativamente ligadas às emoções. Através do onírico Rist nos propicia adentrar em um outro universo por meio da percepção. Creio ser do interesse daqueles que se interessam pelos temas humanos em seus contornos e profundidades conhecer a obra dessa videoartista de 47 anos para quem “os sonhos têm a mesma importância que a realidade”. Atualmente parte de suas obras estão sendo exibidas em dois museus de São Paulo e, como diz a recente reportagem na revista Bravo (acesse através do link: sexo-morangos-videotape-pipilotti-rossi-502704.shtml#) diante de uma obra sua tem se quase a sensação de entrar em um sonho.Ou de voltar à infância, quando cenários coloridos e grandiosos são suficientes para ativar a imaginação.

 

Para quem ainda quiser melhor conhecer o trabalho de Pipilotti Rist pode conhecer seu próprio site, cujo endereço é o seguinte: www.pipilottirist.net

Segue uma mostra em vídeo da artista cujo título é Be Nice To Me (Flatten 04). Vejam em: watch?v=nYDh_D1G0hU&feature=related

SOCIEDADE DE CONSUMO – PARTE V

Posted in Sociedade Contemporânea por Joaquim Cesário de Mello em outubro 5, 2009

Mais uma vez damos continuidade ao presente ensaio sobre a sociedade de consumo, ensaio este que teve início em 19/07/ (Parte I) e que foi seguido pelas partes II, III e IV (postadas respectivamente em 02/08, 20/08 e 15/09) todas inclusas na Categoria “Sociedade Contemporânea”, cujo link de acesso se encontra ao lado direito da tela. Desse modo, vamos agora dar continuidade com a 5ª parte:

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PARTE V:

 

 

 

A combinação de imagens e paixões manipula sobre o psiquismo humano. Como diz Lasch as condições do relacionamento social cotidiano em uma sociedade baseada na produção de massa e consumo de massa é estimulada por imagens e impressões superficiais e rasas. O eu, transformado em uma superficialidade estética e aparente, ofertado tão somente a olhares e desejos dos outros (um eu para ser visto e admirado), propõe-se a ser uma mercadoria disponível para consumo em um mercado ávido por emoções efêmeras e ocasionais. E assim a produção excessiva e abundante de mercadorias e seu correlato consumismo criam um mundo especular onde cada vez mais é difícil distinguir ilusão de realidade. Um mundo de espelhos faz do sujeito humano um objeto, ao mesmo tempo em que transforma os objetos rodeantes em uma espécie de extensão e projeção do próprio eu.

                        Se o consumidor vive rodeado não apenas por coisas como também por fantasias, como denuncia Lasch em seu livro “O mínimo eu: sobrevivência psíquica em tempos difíceis” (ed. Brasiliense), sua dependência como consumidor tem um caráter de oral voracidade. Sendo próprio do desejo em suas raízes mais infantis a ilimitação, assim também o é o caráter fundamental da lógica consumista. Explica-se assim um pouco o porquê a dependência do consumidor ao sistema consumista que lhe escraviza com promessas de segurança, amparo e proteção. Ou como lembra Lasch que se para a cultura do século XIX reforçava-se padrões anais de comportamento (estocagem de bens, acumulação de capital e controle do afeto) a partir da segunda metade do século XX exacerbou-se o padrões orais característicos do período desenvolvimental humano, época em que todos fomos dependentes absolutamente do seio materno. Este seio enraizado na mente humana é como que ressuscitado no mundo circundante do homem consumidor. O ego consumans, portanto, é por excelência um ego adicto.

                        Na genealogia do consumo encontra-se a produção abundante de bens, coisas, mercadorias e objetos, assim como a produção de necessidades a serem fruídas e satisfeitas de maneira rápida e veloz a ponto de nos manter carentes de mais necessidades e objetos (a cultura e os objetos já não são feitos para durar). Talvez seja melhor não falar de um sistema produtor de necessidades, mas sim de um sistema fomentador das mais primais necessidades humanas. Não se cria necessidades do nada, despertam-se e estimulam-se necessidades dormentes. O que se inova e se produz não são as necessidades humanas (felicidade, prazer, segurança, reconhecimento, poder…), porém os objetos do desejo. Tais objetos trazem consigo a promessa ilusória de apaziguamento de nossas angústias, frustrações e vazios, promessas opinácias é bem verdade, contudo de forte apelo e atratividade.

Sociedade pós-moderna gera pessoas pós-modernas. Somos gerados e criados não mais para sermos bons cidadãos, mas sim para sermos bons consumidores. Somos desde cedo alimentados de leite e cultura. Se hoje cada vez mais os pais estão fora de casa ocupados com suas carreiras profissionais e sobrevivência (famílias de duplo carreiramento), ideologicamente os filhos estão sendo socializados pela publicidade e mídia. A televisão, assim, por exemplo, é um braço ideológico e educacional do sistema capitalista. Poucos parecem se dar conta de quanto são condicionados pelos meios de comunicação de massa. Quanto mais cedo se é socializado (primariamente) pela mídia mais difícil é perceber sua manipulação sobre nós. Não uma manipulação de uma elite ou de um grupo de maquiavélicos, mas uma manipulação de um sistema como um todo. Condiciona-se, dessa maneira, crianças, jovens e adultos, a uma existência voltada ao consumo, consumo este a serviço de nossos instintos animais: comer, beber, fazer sexo, se proteger e relaxar. O amor dos pais para com seus filhos é cada vez menos o afeto e cumplicidade do compartilhamento e o carinho do toque e do afago, sendo cada vez mais materializado na compra de presente e bens de consumo. Não sei se aqui há uma compensação ao sentimento de culpa pelo afastamento da proximidade com os filhos, visto que sua carga horária é diminuta e atomizada pelas obrigações e preocupações com o trabalho e a carreira profissional, apenas observa-se que a amorosidade é cada vez mais coisificada e materializada nos objetos e quinquilharias que parecem substituir a ausência dos pais.

                        Crianças, assim como os jovens púberes e adolescentes, são submetidos à força da publicidade e dos meios de comunicação que não são somente formadores de opinião como também formadores de consumidores. Crianças pequenas, por exemplo, bombardeadas cotidianamente pela mídia e ainda em formação cognitiva, emocional e psicológica, não aprendem a refrear seus instintos e desejos, submetidos que estão a idealizar e desejar o que lhes é mostrado. Na hipertrofia do limite instala-se no jovem e na criança uma espécie hipertrofia hedonista tão necessária a um sistema social lastreado pela permissividade e pela hipersensibilidade ao prazer imediato.

As mensagens veiculadas na propaganda, na publicidade, na televisão, na rádio, no cinema e na mídia em geral, podem ser resumidas a seguinte ordem narcísica: “gozem”. E nessa panacéia generalizada do gozo do pelo gozo vamos sendo formados tanto como neo-hedonistas de carteirinha como por perversos neofílicos, isto é, “tarados” e atraídos por novidades, sempre por novidades e mais novidades. Basta atentar para a quantidade de tempo que se dedica uma criança ou jovem para a televisão, vídeos, games, internet, DVDs, e afins, para se perceber que nos tempos atuais brinca-se e se diverte cada vez mais nos espaços virtuais das telinhas e menos nas ruas (perigosas), nos terrenos baldios (escassos) e nos quintais (playground de edifícios). Após um dia inteiro de entretenimento e lazer as roupas não sujas de barro, areia ou lama. Até as brincadeiras dos palhaços dos aniversários infantis estão sendo gradualmente substituídas pelo tilintar enervante das máquinas coloridas e ruidosas dos play stations da vida. O voyeur de cedo será também o exibicionista do amanhã.

                        Assim não é impreciso a analogia do ego consumans  com o ego adicto. Estamos ficando dependentes dos objetos, da tecnologia e dos produtos. O sujeito passa a ser valorizado pelo que possui e pelo que demonstra possuir: griffes, marcas famosas de carro, status, aparelhos de última geração (aliás, devia-se chamar de última temporada ou semestre). Possua e mostre o que possui, este é o mandato vigente. Não basta ter, tem que mostrar ter, ou aparentar ter – que não é a mesma coisa, porém parece igual. Não deixe para amanhã o que você pode ter hoje, mesmo que para isso você se endivide em tantos meses de módicas prestações no crediário fácil e disponível: “basta falar com a moça”, como diz um slogan de uma peça publicitária.

                        Um mundo inteiro sem limites. Será? A mente é em sua essência e nascedouro amoral e regida pelo que chamamos de princípio do prazer (o impulso ou desejo requer descarga imediata). O ego é a parte da mente que em contato com a realidade e o mundo externo serve como executor do que há de mais interior, basal e inconsciente: o id. Nossas necessidades básicas requerem satisfações, logo, já, imediatamente. Assim é a mente em seu estado bruto. Com o evoluir da mesma e das suas inúmeras experiências, aprende-se a controlar um tanto nossos impulsos soberanos, limitando-os, interditando-os, adiando-os ou postergando-os se for o caso. A publicidade, por sua vez, tem como alvo nosso âmago inconsciente oferecendo um bem de consumo qualquer como um objeto de satisfação para nossos inquietos desejos. Como diz a psicanalista Maria Rita Kehl (“O espetáculo como meio de subjetivação”, in: Bucci, E. e Kehl, M.R., “Ideologias”, editora, Bontempo), a publicidade faz nossa mente a partir do nosso inconsciente trabalhar a serviço do capital. Diz ainda ela:  

“Hoje a publicidade não serve apenas para convencer o possível comprador de que um carro é mais potente do que outro, ou que matar a sede com cerveja x é muito mais gostoso do que com y (embora todos saibam que cerveja não mata a sede). Junto com carros, cervejas e cartões de crédito acessíveis a uma parcela da sociedade, a publicidade vende sonhos, ideais, atitudes e valores para a sociedade inteira. Mesmo quem não consome nenhum dos objetos alardeados pela publicidade como se fossem a chave da felicidade, consome imagens deles. Consome o desejo de possuí-los.” (pág. 61)

Por isto que acima dizíamos que não acreditamos que a publicidade a serviço da sociedade de consumo crie necessidades do nada. Não um nada absoluto (embora pessoas possam de achar vazias por dentro) no interior de um ser humano. O que habita em nós é falta e por causa da falta somos desejantes. Assim o que nos habita são faltas e desejos, e a publicidade, como bem diz Kehl, dirige-se ao desejo e responde a ele com mercadorias. Convoca-nos, a todos indistintamente, a gozar o que de fato somente uns poucos privilegiados podem gozar.

Continua

Joaquim Cesário de Mello

DEU NA MÍDIA

Posted in Mídia por Joaquim Cesário de Mello em outubro 3, 2009

 

 

Interessante entrevista dada pelo escritor israelita David Grossman à revista Bravo deste mês, onde ele fala da difícil convivência entre judeus e árabes no oriente médio, tendo ele, inclusive, pedido um filho em uma das inúmeras frentes de batalha porque vive e passa a região. Diz o escritor: “em Israel a palavra ‘paz’ soa como um termo quase obsceno’. E propõe  escrever e fazer Literatura como contrário à guerra. Diz ainda: “Se você vive a violência, ela se infiltra no seu sistema, nos seus órgãos. Esse é o preço que pagamos por viver nessa situação. Escrever é o que faço para me redimir disso”.

A literatura de Grossman (que já foi ator, âncora de rádio, ensaísta e autor de novelas) tem forte apelo pacifista, o que podemos encontrar em livros como “Alguém para Correr Comigo”, “Amor”, “Desvario” e em seu mais recente livro “A Mulher Foge”.

Com vocês a entrevista de David Grossman: literatura-contrario-guerra-495848.shtml#foto=0

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